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Diferenças entre Vinhos Naturais, Biodinâmicos e Biológicos



Antes de existirem pesticidas, fungicidas, fertilizantes, entre outros, os agricultores precisavam de manter as vinhas saudáveis e livres de pragas de forma natural, enquanto tentavam igualmente manter um equilíbrio do ecossistema, ou seja, de todos os seres vivos que o beneficiavam, fauna e flora.

Só desde o início do século passado é que estes produtos tóxicos se começaram a usar comummente, pois foram, como muitas das descobertas científicas do nosso mundo, um sub-produto da guerra, principalmente da II.ª Guerra Mundial.

«Os pesticidas de uso agrícola tiveram grande expansão após a 2.ª Guerra Mundial, graças à descoberta e amplo desenvolvimento e aplicação pelos agricultores dos novos pesticidas organossintéticos. A sua fácil aplicação, o apoio eficiente dos técnicos das empresas de pesticidas e, por vezes, dos serviços oficiais e as evidentes vantagens de maior eficácia e de carácter económico justificam a grande expansão do consumo destes pesticidas a partir dos anos 50, 60 e 70. É bem conhecido que além da sua eficácia em relação aos inimigos das culturas, é frequente que os efeitos secundários dos pesticidas sejam a causa de intoxicações humanas e de animais domésticos e da preocupante mortalidade de abelhas e auxiliares e de outros componentes da fauna e também da flora, com inconveniente impacto no ambiente. Actualmente continua a ser grande a preocupação em relação aos resíduos de pesticidas nos alimentos e nas águas superficiais e subterrâneas.» - Pedro Amaro

Com o fim da guerra, e com a Europa devastada pelas diversas batalhas, foi necessário proteger a agricultura a todo o custo e, ao mesmo tempo, produzir mais e mais rapidamente, para se poderem alimentar os países em crise pós-guerra.
Surgiu também a necessidade de proteger essas plantações contra pragas, de modo a não se perder nenhuma da produção.
Desde então, o uso destes químicos difundiu-se largamente, embora ainda existam produtores que dão preferência aos métodos naturais, procurando manter o mesmo equilíbrio nos campos que antigos agricultores promoviam.
Segundo eles, isso garante um produto natural, autêntico, reflexo da terra (pode dizer-se do terroir, no caso do vinho) que melhor expressa as características do lugar onde foi produzido.
E esse é o ponto comum entre os produtores de vinhos naturais, vinhos biodinâmicos e vinhos biológicos (orgânicos).
Mas quais são as grandes diferença entre estes três tipos de vinho?


Vinhos Biológicos (também designados por Orgânicos)

A denominação corresponde a uma norma europeia de 2012 que proíbe o uso de produtos químicos de síntese a nível dos vinhedos, e impõe a redução dos sulfitos, na vinificação, às respectivas doses máximas autorizadas.
Quando ouvimos falar de produção integrada em vinhos sem o selo de Biológico Certificado, estamos na presença duma solução intermédia entre a agricultura biológica e a agricultura convencional, que pode facilitar a adopção de uma atitude ambiental através de uma utilização “racional” dos produtos fitossanitários convencionais. 
Na agricultura biológica, e na ausência dos produtos convencionais, o cobre permanece contudo o fungicida incontornável. Na realidade, o cobre constitui o único elemento capaz de proporcionar uma cobertura eficaz contra o míldio da vinha. Porém, a sua acumulação nos solos e a dificuldade de despoluição dos mesmos colocam um problema real de toxicidade dos solos.

Os vinhos biológicos ou orgânicos são, portanto, feitos a partir de uvas cultivadas de forma biológica ou orgânica, ou seja, sem o uso de químicos na vinha e a algumas restrições na adega. A prevenção de pragas e fertilização tem como base produtos naturais e em equilíbrio biológico, para impedir o surgimento de pragas, fungos, ervas daninhas e outras ameaças à vinha. Uma das principais preocupações é para com os solos e, por isso, os produtores evitam substâncias que não sejam naturais para regular, proteger e alimentar o terreno e a vinha.

As uvas utilizadas na elaboração do vinho biológico ou orgânico são cultivadas de forma biológica ou orgânica, ou seja, o manejo dos vinhedos baseia-se em produtos naturais e na manutenção do equilíbrio biológico. Não é permitida, portanto, a utilização de produtos sintéticos, adubos ou pesticidas químicos.

Todo o processo é regido por órgãos certificadores e fiscalizadores. Em determinados países, as regras são mais ou menos rígidas.
Há países, por exemplo, que não permitem absolutamente nenhum aditivo químico em todo o processo.
Noutros é permitido que o vitivinicultor utilize acidificantes e anidrido sulfuroso (também conhecido como dióxido de enxofre, produto de acção antisséptica e conservante).
Em Portugal, a legislação não só diz que o vinho biológico tem que ser feito de uvas biológicas, como na adega o ácido sórbico e a dessulfuração também não são autorizados e o teor de sulfitos tem de ser inferior, no mínimo, em 30mg a 50mg por litro ao do seu equivalente convencional (consoante o teor de açúcares residuais). 



Vinhos Biodinâmicos

Os vinhos biodinâmicos, para além de serem feitos a partir de uvas de agricultura orgânica, seguem as regras da filosofia antroposófica, proposta em 1924 por Rudolf Steiner.
De acordo com os princípios da filosofia de Steiner, uma fazenda agrícola deve procurar ser um ambiente totalmente auto-sustentável, em harmonia com o que o rodeia e com o cosmos, sujeitas a uma interferência mínima do homem, para que a terra possa recuperar sua energia vital e produzir frutas e/ou hortícolas que expressem as características próprias do local.

As regras para esse tipo de agricultura estão descritas no livro “The Spiritual Foundations of Biodynamic Methods”. Nele, afirma-se que os processos, tanto na vinha como nos terrenos agrícolas, são regidos pela posição dos planetas e pelas fases da lua. Não se usam fertilizantes, porém o produtor pode contar inicialmente com preparados biodinâmicos de fórmulas naturais (à base de ervas medicinais e minerais), até que o ecossistema recupere o equilíbrio e necessite cada vez menos da acção do homem. Na elaboração dos vinhos também são seguidos os mesmos preceitos, com a menor interferência possível na vinificação, sem utilizar leveduras que não sejam autóctenes ou naturais da própria uva, e com um mínimo, ou nenhum, de enxofre para conservar.

Assim como a agricultura biológica ou orgânica, existem órgãos para regular e autenticar os poucos produtores que se aventurem na agricultura biodinâmica.
Um dos principais nomes adeptos desse prática é o Domaine de La Romanée-Conti, que faz um dos vinhos mais famosos e caros do mundo.



Vinhos Naturais

Embora não exista uma regulação oficial para o uso da designação “vinho natural”, existe um certo consenso entre os produtores sobre as práticas permitidas para se obter um vinho nesse estilo. Para a maioria dos produtores, um "vinho natural" é basicamente o mosto da uva de vinhas biológicas ou orgânicas que fermentaram com leveduras autóctenes ou naturais da própria uva vinificada e sem qualquer intervenção. Desta forma, o enxofre é quase sempre deixado de lado e muitos produtores opõem-se ao uso do envelhecimento em barricas de carvalho ou outras madeiras.

Ou seja, além de se utilizarem uvas de cultivo orgânico, o vinho natural tem como principal característica a ausência de qualquer composto adicionado à bebida, inclusive o anidrido sulfuroso (comummente conhecido por SO2, sulfuroso ou sulfito adicionado).

Desta forma, falamos de vinhos bastante sensíveis e, por vezes, até instáveis. Sem a acção antisséptica e conservante do dióxido de enxofre, o produtor tem que redobrar os cuidados de higiene na adega e, uma vez na garrafa, convém ter cuidado para não haverem oscilações de temperatura ou luz solar direta, de modo a preservar o vinho em condições ideiais.

No entanto, voltamos a frisar que ainda não há uma regulação para o uso do termo “vinho natural” e que cada produtor pode, por isso mesmo, interpretar à sua maneira. Dessa forma, assim como os biodinâmicos e biológicos ou orgânicos, os produtores de vinhos ditos "naturais" acreditam estar a produzir bebidas que melhor representam as características do lugar onde foram feitas, captando a essência do solo e do clima, ou seja, do "terroir”.



Mas mais importante que as diferenças entre os três é que quando falamos de vinhos biológicos ou orgânicos, biodinâmicos e naturais não devemos falar em “vinhos orgânicos”, “vinhos biodinâmicos” e “vinhos naturais”, pois basicamente o produto final - o vinho - é uma consequência da agricultura e do manejo vinícola, ou seja, o correcto seria dizer “vinho feito com uvas provenientes de uma agricultura orgânica”, por exemplo.


Estes vinhos são melhores que os outros?, que os ditos "mainstream"?

Apesar de todos os esforços dos produtores de vinhos biológicos ou orgânicos, biodinâmicos e naturais, não há como afirmar que esses vinhos sejam mais ou menos encorpados ou florais, frutados ou estruturados do que os outros, elaborados de forma “convencional” ou "mais tecnológica", com mais intervenção e produtos químicos.

Isso quem decide é o consumidor.

De qualquer forma, saber como o vinho foi feito, com que cuidado a vinha foi tratada, que não houve o perigo de poluir lençóis subterrâneos de águas, nem impacto ambiental negativo, mas pelo contrário, houve um cuidado ambiental, um respeito pelo ecossistema, saber como as uvas foram tratadas, saber que não estamos a ingerir químicos, que aquele vinho é o espelho da uva que lhe deu origem, do terroir onde ela se insere, da região de onde ela é oriunda; tudo isso faz com que estes vinhos sejam mais autênticos, menos prejudiciais à nossa saúde e ao meio ambiente que nos rodeia.
E isso, isso é impagável.














Fontes: Adega & IVV & Vinovert & Repositório da Universidade de Lisboa

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